Não importa em que parte do Distrito Federal você esteja, a partir das 19h, olhe para o céu e procure o ponto mais luminoso. Você estará vendo Júpiter bem perto da Terra, pelo menos em termos astronômicos. Afinal, quando o assunto é espaço, 588 milhões de quilômetros se torna uma distância pequena. Uma vez por ano, o maior planeta do sistema solar se aproxima da nossa atmosfera e fica mais brilhante. O processo dura meses, mas o dia ideal para observar o corpo celeste, seja a olho nu, de binóculo ou telescópio, é hoje, quando ele estará mais visível. “Todos os dias, nós conseguimos observar o que existe no universo, mas, com a proximidade, conseguimos ver melhor a atmosfera de Júpiter”, explica Maciel Bassani. Ele faz parte do Clube de Astronomia de Brasília (Casb), que tem 99 membros, mas nenhum cientista. São amadores apaixonados pela imensidão do universo e seus mistérios. “Cada vez que você olhar para Júpiter, vai ver uma imagem diferente. Já tirei dezenas de fotos e nem uma é igual à outra. A cada momento, os gases mudam e ficam com outra forma”, conta o servidor público. Para o grupo, um dos melhores pontos de observação em Brasília é a Praça dos Três Poderes. Quem passar por lá no começo da noite de hoje vai conseguir ver uma estrela, entre a bandeira e o Panteão da Pátria, com um brilho mais intenso do que o das outras. Quem não estiver na Esplanada dos Ministérios deve olhar para o lado em que o Sol nasce, onde o planeta poderá ser visto por volta das 19h. Depois, percorrerá o céu e desaparecerá no outro extremo, quando o dia amanhecer. Quem não conseguir observá-lo hoje tem até meados de setembro para contemplar uma das atmosferas mais interessantes do sistema solar. Escudo A aproximação da Terra foi iniciada em 19 de julho. Nesse dia, com um telescópio armado no quintal de casa, em uma área rural da Austrália, um astrônomo amador conseguiu captar uma enorme mancha vermelha no polo sul do planeta. O australiano fez uma fotografia e jogou a informação na internet. Em pouco tempo, a Agência Espacial Americana (Nasa) virou o telescópio espacial Hubble para capturar a nova depressão na superfície de Júpiter. A marca era do tamanho da Terra, provavelmente provocada por um cometa ou meteoro, segundo os cientistas. A constatação reforça a tese, ainda não comprovada, de que o planeta gigante funciona como um grande escudo para Terra. “Aparentemente, Júpiter e Saturno diminuem drasticamente o número de cometas de períodos longos que poderiam atingir a Terra”, afirma ao Correio Nathan Kaib, cientista da Universidade de Washington. Segundo Ronaldo Rogério Freitas Mourão, autor do Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica (Lexikon), se um meteoro capaz de causar um buraco do tamanho do observado em Júpiter atingisse a Terra, os estragos seriam maiores do que o tsunami que atingiu a Ásia em dezembro de 2004, deixando dezenas de milhares de mortos. “A massa de Júpiter é muito grande e atrai mais esses objetos”, diz o astrônomo brasileiro, que durante anos foi um observador sistemático do planeta. Para ele, o mais interessante do corpo é a intensa atividade na atmosfera. “Vi muitas tempestades de cometas, muitos meteoros”, conta, demonstrando o entusiasmo que aproxima cientistas e amadores. “É incrível o que você pode encontrar no espaço”, resume o aposentado Heráclito Sette, também membro do Casb. Ele conta que se interessou pelo tema depois que identificou a forma de um escorpião nas estrelas. Ficou encantado ao descobrir que, no coração do animal, estava Antares, uma estrela com o diâmetro igual à distância que separa Júpiter do Sol. “O que me atrai são coisas fascinantes como essa. Como pode uma estrela ser tão grande?”, comenta. Para os interessados, o Casb promove observações públicas na Praça dos Três Poderes todos os sábados de Lua crescente. O próximo encontro será no dia 29, a partir das 19h. Quem quiser ver um pouco do universo através dos telescópios do grupo só precisa aparecer.
Fonte: club FM
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