quarta-feira, 5 de março de 2014

COMO A LAGARTIXA FICA PRESA NA PAREDE

Uma dúvida cruel  atormentou muitos cientistas: como é que uma lagartixa consegue caminhar pelas paredes, e ate mesmo no teto?
Alguns sugeriram que as suas patas possuíam microventosas. Entretanto, todas as tentativas de se provar a existência de tais ventosas falharam: as lagartixas possuem tal comportamento mesmo sob vácuo ou sobre uma superfície muito lisa e molhada.
Em 1960, o alemão Uwe Hiller sugeriu que um tipo de força atrativa, entre as moléculas da parede e as moléculas da pata da lagartixa, fosse a responsável por tal fato. Hiller sugeriu que estas forças fossem as forças intermoleculares de Van Der Waals.
Mas, tudo bem que elas mantenham moléculas unidas, mas... uma lagartixa?
Poucos deram crédito à sugestão de Hiller. Até que, em um exemplar recente da revista Nature, Autumn escreveu o artigo "Full, Adhesive force of a single gecko foot-hair" (Autumn, K. et al., Nature 405, 681-685 (2000)), trazendo evidências de que, de fato, são forças intermoleculares (interações eletromagnéticas fracas) as responsáveis pela adesão da pata da lagartixa à parede. Mais precisamente: os dedos das lagartixas terminam em milhões de pequenos filamentos, cada um com comprimento de cerca de 100 milionésimos de metro. Essas pequenas estruturas, por sua vez, estão subdividas em mil partes ainda menores, invisíveis a olho nu. Quando os répteis pressionam suas patas contra uma superfície, os filamentos se espalham e cobrem uma área relativamente grande. Como os filamentos aumentam a superfície de contato, um número maior de Forças de Van Der Waals atua entre a pata do animal e a parede, garantindo uma adesão segura.
A descoberta pode ajudar os engenheiros a desenvolverem novos tipos de adesivos.



Forças de Van der Waals são quaisquer tipos de interações intermoleculares resultantes da polarização das moléculas, notáveis apenas em compostos apolares.


TUBARÃO E CAMPO ELÉTRICO: O SEGREDO


Uma barbatana ameaçadora veio à tona, cortando o mar em nossa direção. Um grande tubarão-azul – 3 metros de comprimento – vinha como um torpedo atrás do cheiro de sangue. Minha esposa Melanie e eu vimos três grandes tubarões rodearem nossa baleeira de 7 metros. De repente, um focinho azul-prateado atravessou um buraco quadrado, no convés do barco. “Cuidado!”, gritou Melanie. Recuamos instintivamente, mas não corríamos perigo real. O tubarão exibiu seu “sorriso” e deslizou de volta ao mar.

Atraímos os tubarões despejando sangue no oceano, mas o que nos interessava não era sua conhecida paixão pela substância, mas seu misterioso “sexto sentido”. Pesquisas em laboratório demonstraram que os tubarões conseguem sentir campos elétricos extremamente fracos – como os produzidos pelas células animais em contato com a água do mar. Mas como eles usam esse sentido singular precisa, ainda, ser provado.

Até os anos 70, os cientistas nem mesmo suspeitavam que tubarões fossem capazes de perceber campos elétricos fracos. Hoje sabemos que essa eletrorrecepção os ajuda a encontrar alimento e pode funcionar mesmo quando as condições ambientais tornam os cinco sentidos comuns praticamente inúteis. Ela funciona em água turva, escuridão total e mesmo quando a presa se esconde sob a areia.

Meus colegas e eu agora estamos investigando a base molecular dessa habilidade, enquanto outros buscam descobrir como o órgão sensorial se forma durante o desenvolvimento, e se nossos próprios ancestrais vertebrados eram capazes de detectar campos elétricos antes de deixar o mar. Mas todo esse trabalho ainda é preliminar. Aqui descrevo como os pesquisadores descobriram a eletrorrecepção nos tubarões e sua importância para uma caçada bem-sucedida.

Tubarões e espécies relacionadas sentem campos elétricos extremamente fracos gerados por outros animais na água salgada graças a centenas, talvez milhares de detectores especializados em seu focinho chamados ampolas de Lorenzini

As ampolas de Lonrenzine (detectores especializados), presentes mais especificamente no focinho do tubarão detectam campos elétricos gerados por outros animais na água. Os campos conduzem eletricidade em canais cheios de gel, bem isolados, que se estendem dos poros da pele às ampolas em forma de bulbo alinhadas com uma camada única de células sensoriais. Essas células, que respondem a cada ligeira mudança na carga elétrica do gel no canal, ativam por sua vez os nervos próximos, que informam o cérebro da presença do campo.

Uma célula sensorial reage quando um campo  externo produz um pequeno potencial elétrico em sua membrana, levando os canais a permitir a entrada de íons de cálcio de carga positiva. O afluxo de carga positiva faz com que a célula libere neurotransmissores nas sinapses, ou pontos de contato, dos nervos para o cérebro, estimulando sua ativação. A taxa de estímulos indica a força e a polaridade do campo externo, enquanto sua localização relativa ao tubarão é supostamente determinada pela posição dos poros ativados em seu corpo. As células retornam ao seu estado original após a abertura de um segundo tipo de canal de membrana, que permite que a saída dos íons de potássio de carga positiva.

  
 
Figura 1- A ação dos eletrossensores
Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/o_sentido_eletrico_dos_tubaroes.html