No princípio, era um ponto enrugado e minúsculo, mas tão denso que todo o Universo caberia nele. E, de fato, cabia. Tanta energia acumulava trilhões de trilhões de graus Celsius. Há 13,7 bilhões de anos, a versão em miniatura de uma casca de noz não aguentou seu conteúdo. Como um balão, começou a inflar. Em frações milimétricas de segundos, o mundo foi criado.
Fez-se a luz. Os fótons circulavam por todo o Cosmos em expansão. Partículas fundamentais de força e matéria — algumas já identificadas, outras apenas hipotéticas — navegavam no que os astrônomos costumam chamar de “sopa primordial”. Quando uma partícula se encontrava com sua antipartícula (igual a ela, mas com carga elétrica oposta), ambas eram aniquiladas, liberando mais energia.
O Universo, porém, não surgiu de uma explosão. Embora o termo big bang (grande explosão, em inglês) tenha se tornado popular para designar a origem de tudo, como não existia mais nada, o que ocorreu foi a expansão muito rápida do recém-surgido espaço. A gota minúscula e concentrada foi se ampliando — “fugindo de si mesma”, nas palavras do escritor britânico Bill Bryson —, até tomar uma forma plana, sem curvatura. Boa parte dos astrofísicos, a partir de fortes evidências, acredita que isso vai continuar a acontecer, infinitamente.
Já que ninguém estava lá para saber — a Terra só se formou há 4,6 bilhões de anos —, muitas pessoas se perguntam como os cientistas podem ter detalhes tão precisos da gênese do Universo. De fato, eles ficaram na mais pura ignorância até o início do século passado. Foi um padre belga, Georges Lemaitre, que começou a desconfiar, na década de 1920, que o Universo tivesse surgido a partir de um evento natural grandioso e traumático. Mas só 40 anos depois, com a detecção de ondas de rádio provenientes de 13,7 bilhões de anos atrás — os primeiros fótons —, que a noção se consolidou.
O nome big bang nasceu de uma brincadeira irônica de um crítico da teoria, que a achava muito maluca para ser verdade. Só que os fótons estavam lá, eles podiam ser ouvidos em forma de ruídos. A chamada radiação cósmica de fundo só poderia ser uma relíquia do início do mundo. A radiação emitida tinha um comprimento de onda diferente de tudo que os cientistas conheciam. Não vinham da Terra nem de outros planetas nem das estrelas. Elas vinham, na verdade, do princípio.
A descoberta ajudou a construir a teoria, que foi ganhando mais elementos e deu suporte à constatação de Edwin Hubble (mais tarde homenageado no nome do telescópio espacial), em 1929, de que as galáxias mais distantes se afastavam a velocidades cada vez mais rápidas. Se o Cosmos se expande, um dia, então, já foi algo bem minúsculo. E esse, acreditam alguns poucos cientistas, pode ser o destino do Universo. Murchar até voltar a ser só um ponto enrugado.
Fonte: correioweb